Mais uma manifestação internacional contra o Projeto de Lei 4699/2012, que regulamenta a profissão do historiador: a maior e mais antiga sociedade do mundo dedicada à história da ciência, a History of Science Society, aponta defeitos da proposta e pede sua correção ou rejeição completa.
"Negar
aos historiadores da ciência com educação formal fora da história a mesma condição
e oportunidades daqueles que possuem diplomas em história faria a história da
ciência retroceder, tanto no Brasil quanto internacionalmente."
Veja, abaixo, a tradução da carta do Comitê Executivo da History of Science Society.
2 de Agosto
de 2013
Prezados
senhores e senhoras
O Comitê Executivo da Sociedade
de História da Ciência (History of Science Society – HSS), a maior e
mais antiga sociedade do mundo dedicada à história da ciência e suas relações
sociais e culturais, deseja dar uma resposta ao projeto de lei brasileiro 4699/2012
que limita a instrução em história àqueles que possuem um título acadêmico em
história. Embora compreendamos a intenção de tal lei – manter os altos padrões
da profissão do historiador – acreditamos que ela terá um impacto negativo no
ensino da história da ciência.
Muitos dos melhores historiadores
da ciência possuem títulos avançados nas ciências, títulos que eles então
utilizaram para desenvolver uma educação informal na história da ciência (por
exemplo, através de bolsas e auxílios de pós-doutorado). Estes indivíduos
produziram alguns de nossos trabalhos mais perspicazes. Realmente, um dos
fundadores da história da ciência como disciplina, George Sarton, obteve um título
de doutor em matemática antes de se reinventar como historiador da ciência. O
treino em pesquisa histórica é vital para tais estudiosos e é essencial
desenvolver um sentido do contexto histórico. Mas isso não precisa ser
realizado dentro da estrutura de um programa de titulação formal. Realmente, o
físico Richard Feynman, durante suas muitas visitas ao Brasil, enfatizou a
necessidade de que os educadores brasileiros expandissem sua visão sobre educação
e ajudassem os estudantes a aplicar seu conhecimento à vida diária. Tememos que
a proposta de lei tenha o efeito não intencional de rebaixar o valor da competência
científica na história da ciência. Isso é especialmente importante para o
Brasil, dado seu rápido crescimento em história da ciência. No recente
congresso internacional de história da ciência, realizado na semana passada em
Manchester, Inglaterra, os historiadores do Brasil representaram o terceiro
maior contingente de estudiosos, depois dos Estados Unidos e do Reino Unido. E
com o próximo congresso internacional programado para o Rio de Janeiro em 2017,
esperamos que os historiadores da ciência de todo o mundo, seja qual for sua
titulação, se sentirão bem vindos para compartilhar sua pesquisa no Brasil.
Negar aos historiadores da
ciência com educação formal fora da história a mesma condição e oportunidades daqueles
que possuem diplomas em história faria a história da ciência retroceder, tanto
no Brasil quanto internacionalmente. Nós lhes pedimos que mudem esse projeto de
lei para incluir alternativas válidas e caminhos alternativos valiosos para o
ensino da história da ciência, ou que se oponham totalmente a esta legislação.
Atenciosamente,
Comitê Executivo da HSS: Lynn K.
Nyhart, Presidente; Angela Creager, Vice-Presidente; Bernard Lightman, Editor;
Marsha Richmond, Secretária; Adam Apt, Tesoureira; Robert J Malone, Diretor Executivo
Membros do Comitê Executivo da History of Science Society. Da esquerda para a direita: Bernard Lightman, Lynn Nyhart, Paul Farber, Marsha Richmond, Adam Apt.
Ver o documento original, em inglês:
https://dl.dropboxusercontent.com/u/4072208/HSS-Support_for_Historians_of_Science_in_Brazil.pdf
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